VIVENDO A LOGÍSTICA

LOGÍSTICA E PRODUTIVIDADE

No dia 31/07/1986, publiquei um artigo no jornal Folha de S. Paulo, cujo tema foi“Manufaturado exige operações ágeis”. O enfoque foi a Logística Industrial Integrada aos novos processos que estavam em fase de implantação, oriundos da indústria japonesa em especial: Just in time, Kanban e controle estatístico de processo. Estas inovações exigiam grandes mudanças em layout, fluxos internos e gestão de estoques.

Muitas vezes, a maioria dos profissionais que hoje em dia atuam em Logística, desconhece esta interface. Mesmo gestores industriais ainda não se aperceberam desta íntima relação de que tratei neste artigo em 86, entre Logística e Produtividade.

Portanto, baseando-me nesta rápida história da Logística vivida por mim, ressalto que o conceito de Produtividade ultrapassou as fronteiras das fábricas há quase 20 anos. Por isso, chamo o leitor à reflexão para que verifique o significado deste fato na realidade de 2004. Quero também registrar que, neste mesmo ano de 86, participei de um evento na França denominado Productlog, sendo esta uma grande oportunidade de entender como as empresas européias estavam fundindo Logística com Produtividade. Assim, concluí que deveria enfocar a Logística dentro do conceito “Extended Logistics Services”, ou seja, olhando a cadeia de abastecimento como um todo e não em partes.


PONTO DE VISTA

 NEÓFITOS E A “NEOLOGÍSTICA”

Na semana passada, participando da 2ª Feira Internacional do Amazonas, em Manaus, assisti a mais um painel sobre o tema “Formação Profissional e Ensino na Logística”. Participaram da mesa alguns professores universitários e profissionais atuantes em empresas. Ali, ouvi novamente alguns absurdos do tipo: “A Logística é uma atividade recente”, “Não existe formação de Logística no Brasil” e “Curso de economia com ênfase em Logística”.

Isto se seguiu por aí afora, tendo no público uma grande quantidade de estudantes universitários, que por sua própria natureza, tendem a acreditar naquilo que estão ouvindo.

Em todas as vezes que escuto estas afirmações dos neófitos da Logística, sinto despertar em mim um certo sentimento de desagrado e revolta. Primeiro, porque não dizem a verdade; segundo, porque não se dão ao trabalho de aprofundar seus estudos e análises; e terceiro, por não terem responsabilidade diante de estudantes e principiantes.

Iniciei minha carreira em Logística em 1972, como todos sabem, na General Motors do Brasil. A primeira vez que tomei contato com a palavra Logística foi em 1973, na matriz da GM em Detroit, Estados Unidos. Nesta oportunidade, o enfoque era a Logística Industrial. Um pouco mais à frente, tornei-me membro da “Society of Logistics Engineer”, entidade americana que reunia os profissionais da Logística com foco direcionado para o planejamento industrial. Na virada dos anos 80, a Logística Comercial começou a sair das paredes das fábricas, caminhando em direção ao mercado, e neste foco, começou a se fundir com a ciência do Marketing, criando novas ramificações para a distribuição física. Um pouco adiante, já no início dos anos 90, podíamos configurar dois grandes ramos da Logística: a Logística Industrial e a Logística Comercial.

É verdade que a grande mídia não especializada começou a se interessar pelo assunto Logística por volta de 1995, com o acelerado avanço da tecnologia da informação e, logo em seguida, com o advento do comércio eletrônico via internet. A grande mídia apenas informa, e normalmente com o foco em notícia. Porém, não forma ou aprofunda os temas. Por isso é que os neófitos da Logística se iludem achando que o assunto é uma coisa nova.

Fica aqui mais um alerta: a Logística Empresarial não é nova como também não é antiga como muitas vezes ouço, em citações que vão desde Napoleão Bonaparte até ações da 2ª Guerra Mundial. Na verdade, a Logística Empresarial deu seus primeiros passos, na forma como a entendemos hoje, no início dos anos 50. É uma ciência em contínua evolução.

Quanto à formação acadêmica dos profissionais, ressalto, do alto dos meus 32 anos de profissão, 20 anos de consultoria, mais de 600 projetos, que o conteúdo programático e grade curricular para um curso desta natureza devem conter elementos das seguintes tradicionais áreas: Engenharia Industrial, Economia, Administração de Empresas e Marketing, adicionados de temas como gestão do conhecimento e inglês técnico.

Isto porque o que dispomos hoje, no mercado brasileiro, é de profissionais de formação acadêmica genérica, que agregam experiência apenas nos processos ligados a seu trabalho na empresa ou num setor. Isto é até um fator de restrição para empresas como a VANTINE, que aplica a Logística de forma profunda e ampla, com projetos ora estratégicos ora operacionais, tanto no segmento siderúrgico como na indústria de alimentos ou no varejo.

Portanto, “neologística” é um neologismo ainda não incorporado pelo dicionário, e certamente não virá a ser, pois a história não dá chance para criar o que já existe há tempos.

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