VIVENDO A LOGÍSTICA

AGOSTO DE 1986: NASCE A VANTINE

Nos anos 80, conforme já historiamos anteriormente, a logística começou a ser discutida de forma mais ampla e no cenário de 1986 já se apresentava bastante desenvolvida no conceito técnico de distribuição física, relacionada com a área financeira, e na administração de materiais, vinculada ao Departamento Comercial.

O mundo já falava em logística. Com a experiência adquirida por mim na indústria a partir de 1972, atuando nos primórdios desta prática no país, em uma série de viagens internacionais e no acompanhamento a entidades de atuação global desde 1979, resolvi investir, também como pioneiro, em um foco de atividade que até então não existia no Brasil: a consultoria em logística.

Nasce a VANTINE Consultoria Logística, dentro de um contexto voltado para a logística integrada, definida em três planos: operacional, tático e estratégico. A VANTINE foi estruturada dentro do conceito de gestão do conhecimento, com o desenvolvimento de metodologias próprias – enquanto as consultorias existentes na época, nas áreas de finanças, qualidade e produtividade, criadas por ex-auditores de companhias americanas centenárias, importavam os métodos destas empresas e, por conta disso, ficavam conhecidas como filhotes.

O melhor e mais bem sucedido exemplo brasileiro de consultoria é a Trevisan e Associados, que nasceu também naquela época. Já a VANTINE nasceu de nossa própria criatividade, como todo seu conteúdo de metodologia, sistemas e projetos criados pelo fundador.

Como sabia que nem sempre o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, até porque tive minhas origens profissionais em empresa americana, julguei melhor criar um método nosso, adequado à cultura brasileira. Somei o que de melhor havia em conhecimento e aplicação logística nos Estados Unidos, Japão e Europa. Surgia assim uma consultoria genuinamente brasileira, mas, desde o primeiro momento, plugada no mundo. É por este motivo que, até o hoje, a VANTINE é a mais internacional das consultorias brasileiras em logística.

A VANTINE trazia desde sua criação dois focos importantes: a consultoria e o treinamento, por meio da promoção de eventos e cursos de especialização. Nascia, assim, a logística no Brasil.

Já em seu primeiro ano de atividade, em novembro de 1986, aVANTINE organizou uma missão técnica internacional para a França, como você vê na figura abaixo.


Com esta identidade, a seguir, nasceu a VANTINE, em 1986.

Nosso primeiro cliente em consultoria foi a Hering Têxtil, de Blumenau (SC) e sobre este e outros cases falaremos na próxima edição.


PONTO DE VISTA

TURBINA DE UM LADO, HÉLICE DO OUTRO

As manchetes de jornais, revistas, rádios e televisão nos últimos dias têm assustado até quem não se envolve diretamente com a logística. “Exportador cria overbooking em navios”, “Empresa reforça estoque para evitar escassez”, citando exportadores que pagam frete aéreo para cumprir contrato, “Empresas driblam gargalos de infra-estrutura” e “Setor automotivo importa até barra de aço por avião”. São apenas algumas das muitas notícias que já eram esperadas por nós do setor logístico. E o pior: elas tendem a se agravar.

Mas o que temos de chamar a atenção não é mais somente para o problema de infra-estrutura e sim para a relação entre comércio exterior e logística internacional. Há muitos anos, desde os tempos em que lecionei na Funcex (Fundação Escola de Comércio Exterior, em São Paulo) venho alertando os colegas de mercado sobre a necessidade de junção dos processos do comércio exterior com os da logística internacional.

Temos pelo menos um ponto em comum e é muito importante que os profissionais da área procurem conhecê-lo: trata-se dos Incoterms. Esta é uma convenção da International Chamber of Commerce (ICC) que estabelece um padrão para os contratos internacionais de compra e venda. Os Incoterms definem os direitos e as obrigações das partes. Um Incoterm “Ex Works” (EXW) determina que o exportador tem apenas o compromisso de entregar a mercadoria ao comprador na porta da sua fábrica, deixando todo o arranjo logístico para o importador. Já pelo Incoterm “Delivered Duty Paid” (DDP) é o exportador que se responsabiliza por todo o trâmite logístico até a entrega da mercadoria.

O governo brasileiro adota como padrão as exportações “Free on Board” (FOB) e as importações “Cost, Insurance and Freight” (CIF). Isso porque nossas empresas nunca foram responsáveis pela organização logística do seu comércio exterior, deixando-a a cargo dos importadores. Mas esse quadro vem mudando. Hoje, tanto exportadores quanto importadores dão preferência ao transporte porta-a-porta. Nesse contexto, a multimodalidade, em especial a figura do Operador de Transporte Multimodal (OTM), ainda em desenvolvimento no Brasil, assume sua importância, organizando todas as atividades que compõem a cadeia logística.

O governo brasileiro precisa repensar urgentemente sua política de infra-estrutura por conta do mercado global. E as empresas brasileiras precisam criar um departamento de logística internacional para cuidar de suas exportações.

Caso contrário, continuaremos como um avião com uma turbina em uma asa e uma hélice na outra, sem jamais poder decolar.

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