VIVENDO A LOGÍSTICA

O GAP ENTRE TEORIA E PRÁTICA

Para encerrar nossa série de comentários sobre as importantes lições trazidas a público em 1986 pelo professor Martin Christopher, no livro “Effective Logistics Management”, e que são ainda tão atuais quanto pouco praticadas no Brasil, abordaremos dois outros conceitos trazidos do customer service para a logística. Nos artigos anteriores, falamos do OCT (Order Cycle Time), tempo do percurso de um pedido entre o momento em que é feito pelo cliente até o recebimento do produto por este. Tratamos também do nível de serviço, índice de entrega de um pedido no prazo inicial estipulado. E encerramos com o status da informação do pedido, que nos permite planejar produção e vendas com as mercadorias ainda em trânsito.

O quarto aspecto do serviço ao cliente aplicado à logística são as conveniências do pedido. Um bom exemplo são as exigências das grandes redes de varejo, que podem determinar um conjunto de normas para receber produtos, como uma janela de entrega em horário específico, em palete PBR, com altura de 1,20 metro e com proteção em filme plástico, shrink ou stretch.

São exigências adicionais do cliente que podem aumentar a complexidade da logística, mas que aumentam também o diferencial competitivo do fornecedor. Ou seja, quanto mais este desenvolve sua competência no atendimento ao cliente, mais mercado ele terá.

Como último aspecto importante do aprendizado de 1986, no espírito do “back to basic”, temos a gestão do estoque. Dentro da política de serviços de uma empresa, esta é hoje uma pedra fundamental, não apenas em função do custo de inventário, que atualmente pesa muito dentro da estrutura de custos da organização, mas também por conta do seu nível de atendimento.

A gestão de estoque é que estabelece o nível de serviço da empresa. O grau de acuracidade do estoque é o grande desafio do momento. Há trinta anos, por exemplo, uma indústria de calçados produzia meia dúzia de modelos. Era, portanto, muito mais simples produzir e atender os pedidos do mercado. Hoje, marcas como Nike, Reebok e Adidasfabricam, cada uma, de 1500 a 2000 tipos diferentes de produtos (SKUs). Isso eleva o grau de complexidade da produção e, obviamente, o da gestão de estoque e da distribuição física, pois o consumidor precisa do item de sua preferência disponível no ponto de venda.

Na medida em que se aumenta a quantidade de produtos à venda, cresce também a necessidade e a importância da gestão de estoque. Este já é um conceito ainda mais antigo, porém, que começou a ficar mais claro em 1986 e hoje é extremamente útil e eficaz na gestão da cadeia de logística.

Como vemos, na logística não existe inovação, mas evolução. Em todos esses anos, nada surgiu que interrompesse uma seqüência lógica. Pelo contrário, tudo é pura evolução. Mas, mesmo assim, hoje ainda há uma grande distância entre estes conceitos, que na verdade não são teóricos e sim práticos, e a prática que assistimos no Brasil. E isso ocorre pela falta de conhecimento de muitos profissionais de logística, que são formados no dia-a-dia das organizações e desconhecem os fundamentos de suas ações, que assim se tornam mecânicas.

Meu empenho, nestas três décadas dedicadas à logística, tem sido mostrar aos colegas e novatos na profissão a importância de obter o melhor do meio acadêmico, cuja missão é elaborar teorias, e do mercadológico, que resolve os problemas de forma mais corretiva e interpreta a logística de forma muito mais operacional. Um profissional que estuda, por exemplo, o que é “trade off”, está apto a criar soluções melhores. Assim como aquele que conhece uma política de estoques pode equacionar melhor o equilíbrio entre a demanda de mercado, a previsão de vendas e o planejamento de produção, por meio da gestão de estoques.

Logística, por definição, é o processo de planejamento, operação e controle do fluxo de produtos. Quem trabalha somente com a visão prática da atividade, pode estar deixando de exercer seu papel de planejador por desconhecimento teórico e reduzindo seu leque de competências. Mas nunca é tarde para começar.


PONTO DE VISTA

DEPOIS DE MANAUS, É A VEZ DE ANÁPOLIS

Num país de dimensões continentais, a criação e o fortalecimento de pólos logísticos, devem ser estimulados e saudados, pois, além de reduzir os custos de abastecimento e distribuição das empresas, estimulam o desenvolvimento do país em outras regiões que não o Sudeste. Não é por outro motivo que a VANTINE se empenha há mais de uma década no desenvolvimento de soluções para elevar a competitividade da Zona Franca de Manaus.

Elaboramos o projeto do Eizof (Entreposto Internacional da Zona Franca), que recuperou o parque industrial da cidade. Para quem ainda não teve a oportunidade de conhecê-lo, o Eizof funciona como uma central de distribuição de produtos locais para o mercado nacional e também como armazém alfandegado.

Mais recentemente, contribuímos com a concepção e com a implantação em andamento do Centro Logístico Avançado de Distribuição (CLAD) da Zona Franca na Flórida, Estados Unidos. Formado por um armazém alfandegado, no Porto de Everglades, e de um showroom permanente, o centro vai operar como um hub dos produtos exportados pelo Pólo Industrial de Manaus para os mercados dos Estados Unidos na velocidade que o mercado internacional requer. Também aturará como centro de consolidação dos insumos destinados a Manaus, o que vai otimizar os embarques e o custo de frete.

Da mesma forma, agora é nossa vez de aplaudir a iniciativa do governador de Goiás, o jovem dinâmico Marconi Perillo (PSDB), de criar a Plataforma Logística Multimodal de Anápolis, que será mais um feito histórico para o setor e para o país. No mês passado, participamos do 1° Seminário Brasileiro de Transporte de Cargas e Logística, promovido pela NTC&Logística na bela estância goiana de Rio Quente, e constatamos a prioridade que o governador e sua equipe dão para esta área.

As obras de infra-estrutura da Plataforma Logísticacomeçaram na semana passada e já há empresas do segmento que anunciaram estar interessadas em investir no local, como DHL, VarigLog e Brazilian Express. Outras seis grandes indústrias farmacêuticas também devem confirmar, no mês que vem, a construção ali de um centro importador/exportador e distribuidor de insumos. São elas a Eurofarma, Astra Zeneca, Shering Química, Boeringer, Roche e Schering Farmacêutica.

O projeto da Plataforma Logística, orçado em R$ 250 milhões, será implementado em quatro etapas e vai reunir, no mesmo local, um centro de transporte rodoviário, onde se agruparão atacadistas e operadores logísticos; um pólo de serviços e de administração, assim como terminais ferroviário e de frete aéreo.

A intenção do governo do Goiás é inaugurar a primeira etapa da Plataforma Logística até o primeiro semestre de 2005. “Queremos atrair não somente a área farmacêutica, mas a eletroeletrônica que passa por Manaus, vai para São Paulo e depois volta para o Centro- Oeste”, diz o secretário de Indústria e Comércio de Goiás, Ridoval Chiarelloto.

A Plataforma ficará em uma área de cerca de 700 hectares, entre a BR-153, a BR-060 e o distrito industrial de Anápolis. Foi criada por lei, sob a forma de sociedade anônima, tendo o Estado de Goiás como acionista fundador, e poderá ser administrada por indústrias, distribuidores, prestadores de serviços logísticos e transportadores que se estruturarem no local.

A estrutura da plataforma oferecerá, serviços de armazenagem, despachos aduaneiros, beneficiamento, processamento e embalagem de produtos, concentração e desconcentração de cargas e serviços de apoio. As empresas também serão favorecidas por ampla rede de comunicação de dados, com equipamentos e serviços de última geração, que tornarão mais ágeis, eficientes e seguras as transações comerciais realizadas entre a indústria, fornecedores e varejo.

Anápolis concentra o terceiro maior pólo farmacêutico do país e o primeiro na fabricação de medicamentos genéricos. São 18 empresas que produzem cerca de 15% da oferta nacional. Além de estar próxima dos principais mercados agropecuários e industriais, a cidade está no entroncamento de importantes rodovias e ferrovias; tem Porto Seco, contará com aeroporto e está na principal região do agronegócio do país. Vale ressaltar que o Brasil hoje dispõe de 15 milhões de hectares de cerrado agricultável, dos quais cinco milhões estão em território goiano.

A ADTP (Agência de Desenvolvimento Tietê Paraná),entidade que atua na promoção de estratégias de desenvolvimento e atração de investidores para o setor de transportes e outros, tem auxiliado o Governo de Goiás na concretização do projeto. Ela está promovendo uma série de encontros com empresários, em cinco cidades brasileiras (Goiânia, Manaus, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) e em duas capitais de países vizinhos (Buenos Aires e Santiago), para apresentar a atratividade comercial do projeto ao mercado.

O evento de lançamento da Plataforma em São Paulo vai acontecer no próximo dia 18 e reunirá, além do governador Marconi Perillo, o presidente da Perdigão, Nildemar Secches, e o diretor comercial de Logística da CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), Mauro Dias, entre outros. Tudo isso indica que muitas empresas devem incluir o Centro-Oeste brevemente nos seus planejamentos logísticos.

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