A um dia da implantação do real, as transportadoras de carga rodoviária fracionada e geral seca estão registrando movimento estável. Um quadro atípico, já que em véspera de mudanças na economia o habitual é uma paralisação da demanda de consumo e por isso do transporte. E, a expectativa do setor é de um aquecimento logo depois da entrada da nova moeda. Para alguns, essa expectativa otimista vem contudo, acompanhada de um receio: a de que as transportadoras não consigam manusear a carga com a devida rapidez, por falta de capacidade (de caminhões, edificações ou logística adequada) se o aquecimento do mercado for muito grande.

Segundo o diretor-geral da Vantine Associados, uma empresa de consultoria em Logística e Supply Chain Management, José Geraldo Vantine, a dúvida sobre o comportamento do mercado em relação ao aumento de demanda, “que ninguém sabe de quanto poderá ser exatamente”, gera um medo. “Se houver um crescimento grande de tonelagem, as transportadoras podem não ter capacidade para atender à demanda rapidamente. Até 10% de aumento elas devem conseguir absorver – e por isso até aí o frete não se alteraria. Para Thiers Fattori Costa, diretor do grupo ITD, que tem três empresas de transporte de cargas e coordenador de assuntos tarifários da Associação Nacional das Empresas de Transportes Rodoviários de Carga (NTC), há uma capacidade ociosa no setor de transporte de cargas de cerca de 25% o qual poderia se esgotar em um ano, estima.

CONFIANÇA NO PLANO

“Sob a óptica das indústrias, a explicação para esse movimento estável, do consumo, que se reflete no transporte, ocorre porque o plano é de conhecimento do consumidor. Não há o fator surpresa, e por isso ele está se comportando normalmente”, disse Vantine.

Para Thiers Costa, o movimento normal deve-se à confiança que há no plano. O grupo movimentou do dia 1° ao 25 deste mês 8,9 mil toneladas, ante 8,07 mil toneladas no mesmo período de maio. O número de despachos nesses dois períodos foi de 63.886 e de 64,5 mil, respectivamente. Essas diferenças, avalia, podem ser tiradas entre dois e três dias. Costa acredita que a partir de meados de julho, se não houver nenhuma surpresa no pano, haverá um aumento do movimento de carga de cerca de 10% sobre junho. E, daí em diante, um crescimento de 2% a 3% mensalmente. O tradicional aquecimento verificado no segundo semestre está incluído nesse crescimento, mas o fator principal será mesmo o plano econômico do governo, disse.

A expresso Araçatuba, que também tem tido movimento estável, vem observando nos últimos 45 dias um aumento das consultas de antigos clientes e usuários em potencial, sobre tabela e localidades que a empresa serve. Segundo o gerente de marketing da empresa, Oswaldo Dias de Castro, isso se deve a uma expectativa de aumento de movimento.

Se o plano de governo der certo, o volume de carga transportada poderá subir entre 20% e 30% nos próximos dois meses. Essa é a expectativa de Guillermo Lambrecots, diretor comercial da Empresa de Transportes Atlas, que movimenta cerca de 20 mil toneladas ao mês. “Mas é difícil prever de quanto será o crescimento”, afirmou.

FRETES PODEM FICAR ESTÁVEIS

Vantine, da Consultoria Vantine Associados, acredita em um aumento momentâneo do consumo de 5% a 10% entre julho e agosto – o que deve-se refletir nos transportes – , porque os consumidores verão seus salários e compras atrelados a uma moeda forte. “É um efeito psicológico.” Daí, até em torno do mês de outubro, deve-se ter uma estabilização, e se houver aumento será em função do típico aquecimento do segundo semestre. De outubro em diante é difícil fazer um prognóstico, porque é período de eleição. Dependendo dos candidatos que forem para o segundo turno da eleição presidencial, pode haver estagnação e até queda do movimento, completou.

Os fretes, até outubro, devem-se manter estáveis, nos mesmo níveis de hoje, diz Vantine. “Se os custos não subirem em real, não há porque o frete subir em real”, disse Lambrecots, da Atlas. Mas um aumento momentâneo superior a 10% poderá também elevar os fretes em termos reais, podendo até fazer com que os descontos hoje praticados sobre a tabela referencial da NTC desapareçam”, acredita Vantine. “É a lei de oferta e demanda”, defende ele.

Artigo de José Geraldo Vantine, Diretor Geral da Vantine Consulting, empresa de Consultoria em Logística e Supply Chain

Jornal – Gazeta Mercantil – 30 de junho de 1994