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1.3 SISTEMA

O sistema logístico atua diretamente sobre a cadeia de distribuição que acabamos de analisar. Sua finalidade é controlar e harmonizar os fluxos de entrada e saída nas áreas de distribuição, suprimentos e produção – sejam eles referentes a informações ou materiais. Com isso, se propõe a obter o máximo de eficiência do setor serviços, ao menor custo possível. Um projeto de logística deve, portanto, determinar o nível desejado de desempenho e os custos que acarretará. Por isso, antes de defini-lo, a empresa deve realizar uma análise da eficiência de sua cadeia de distribuição e definir seus objetivos de médio e longo prazo. Para tanto, as seguintes perguntas são fundamentais:

  • Onde se localizam os meus clientes, atuais e potenciais?
  • Que produtos eles compram?
  • Qual o volume de compras de cada um?
  • Qual o padrão de pedidos característico de cada grupo de clientes?
  • Estou sendo eficiente em atender suas necessidade, em relação a prazos, qualidade e segurança de entrega?
  • Onde se localizam e qual o porte de meus fornecedores?
  • Quais os padrões de suprimentos sazonais e cíclicos que eles observam?
  • Qual o grau de antecipação com que trabalham?
  • Seus serviços, em relação a prazos, segurança e qualidade de entrega estão de acordo com minhas expectativas?

Respostas a essas perguntas poderão indicar onde se encontram os pontos de estrangulamento da cadeia e quais as medidas necessárias à sua solução. É a partir daí que, como estratégia de planejamento, o sistema logístico apoiará as seguintes variáveis:

  • Número e localização das unidades produtivas;
  • Número e localização dos armazéns e centrais de distribuição;
  • Meios de transporte;
  • Meios de comunicação;
  • Processamento de dados;
  • Disponibilidade do produto;
  • Localização dos produtos nos estoques;
  • Volumes de produção e de estoque.

Devido à sua amplitude, o projeto de logística pode ser dividido em dois sub-sistemas: suprimentos ou administração de materiais e distribuição física. O primeiro se ocupa de compras, recebimento, almoxarifado, controle de estoques e planejamento e controle da produção. O segundo tem as funções: embalagem, movimentação, armazenagem e transporte do produto final.

É preciso notar, porém, que essas funções não são subordinadas a um mesmo departamento: espalham-se em diversas áreas da empresa. Essas áreas, por sua vez, exercem outras funções que não pertencem ao âmbito da logística.

Em nosso modelo, a diretoria industrial – que também se ocupa de questões operacionais como volume e quantidade de material produzido – é responsável pelas áreas de manufatura, que se sub-divide em produção e suprimentos. Já a diretoria comercial, se ocupa do sub-sistema distribuição, através dos departamentos de marketing e vendas. Além disso, executa outras funções como propaganda e vendas, que também não pertencem ao âmbito da logística.

Se fizermos, agora, um corte horizontal no organograma da empresa modelo perceberemos que os diversos departamentos em que os sub-sistemas estão divididos têm “status” semelhante. O mesmo acontece com as diretorias.

Muitas vezes, porém, os objetivos desses departamentos ou diretorias são divergentes. Por questões de custos, por exemplo, a produção prefere entregar séries longas e homogêneas e o setor de compras adquiri lotes com grandes volumes. Isso, porém, pode não se enquadrar na política de segmentação e diversificação de mercados da área de marketing. Em outro caso, uma ligeira mudança na embalagem beneficia a imagem do produto, mas causa perturbações na produção e em todo o fluxo de escoamento.

Devido à segmentação dos sub-sistemas entre as áreas e às divergências que podem surgir, o sistema logístico funciona como uma espécie de árbitro e, ao mesmo tempo, como um guarda-chuva aberto sobre toda a empresa.

Um projeto de logística integrada com metas de curto, médio e longo prazo, está acima de pendências como essas e as resolve enfocando o todo e não um departamento específico, e a solução encontrada tenderão a beneficiar a relação custos/benefícios da empresa, mesmo que, para isso, alguns elos da cadeia sejam sacrificados em termos de custos ou produtividade.

1.4 – O MODELO

É importante notar que, o desenho de cada projeto de logística integrada varia de empresa para empresa. Em determinado caso pode ser necessário o redimensionamento total da estratégia de manutenção de estoques e transportes, para agilizar a distribuição. Em outro, o ponto de estrangulamento pode estar apenas, na sub-utilização de uma máquina – e ser resolvido com a rápida visita de um consultor. Já em um terceiro exemplo a melhor alternativa pode ser contar com os serviços de uma empresa especializada em Logística integrada, que se encarregará de descobrir os problemas, apontar e implantar a sua solução.

Além disso, o setor em que a empresa atua é fundamental na definição do projeto. Ela determina as dimensões das áreas de produção, suprimentos e distribuição. E, em conseqüência, os gargalos do sistema. Um estaleiro, por exemplo, não possui problemas de distribuição. A área de suprimentos, porém, é fundamental a suas atividades, diante da variedade e quantidade de itens necessários à construção de um navio. Em situação parecida se encontra a construtora de uma usina nuclear. Já no extremo oposto situam-se os distribuidores que se concentram no transporte de materiais. Modelos mais complexos de Logística são encontrados nos Shopping Centers e Supermercados. Para os primeiros, colocam-se questões como a necessidade de agilizar vendas nas várias lojas para reduzir o tempo de espera dos automóveis em um mesmo estacionamento. Já nos Supermercados, os problemas se concentram tanto em suprimentos, como no de armazenagem e distribuição dos produtos. Algumas redes localizadas no Nordeste abriram escritório de compras em São Paulo, pressionadas pela distância entre suas sedes e os pólos de produção. Outras reformularam seus armazéns ou montaram frotas próprias, para reduzir custos e tempo de transporte das mercadorias. Na indústria, a área de produção tende a ter um peso maior. No entanto, também aqui se podem encontrar problemas de distribuição. Geralmente é o fornecedor quem se encarrega da entrega do produto. Por isso, quanto maior for o número de clientes atendidos, maior o peso da distribuição. Produtores dos chamados lacto-frescos – derivados do leite que devem ser conservados em ambientes refrigerados – entregam os produtos diretamente nas lojas de cadeia varejista. Alguns chegam a visitar até 25 mil clientes por semana. Qualquer que seja o modelo, é preciso considerar que os projetos de Logística devem ser flexíveis. Sua elaboração, como foi visto, é determinada pela fixação de objetivos da empresa. O equilíbrio entre esses objetivos, porém, se modifica frente às variações do mercado e da situação dos negócios realizados pelas empresas. Na maior parte dos casos, essa mudança pode ser acompanhada por ligeiros ajustes operacionais do sistema. Em outros, pode ser necessária, pelo menos, a sua modificação parcial. O mais provável, porém é que o sistema, bem administrado, acompanhe sempre a linha mestra pré-definida, sofrendo constantes modificações de pequeno porte e reavaliações periódicas.

Jornal – O Estado de São Paulo – Publicado em 04 de outubro de 1988

J.G. Vantine – Engenheiro Industrial, consultor, professor especializado em logística, distribuição, movimentação, armazenagem e embalagem. Professor da OEA para América Latina. Diretor geral da Vantine & Associados, empresa especializada em Logística e Distribuição Física.

Diretor Geral da Vantine Consulting, empresa de Consultoria em Logística e Supply Chain Management