SUPERHIPER-NOV_2015

Criada há 25, solução aprimorou integração do setor supermercadista com outros agentes da área de abastecimento, preparando varejo e indústria para desafios futuros.

Na década de 1990, o autosserviço e os hábitos de consumo tinham características muito diferentes dos dias atuais. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) reunia cerca de 35 mil lojas, que respondiam por 70% das vendas de itens de alimentação, higiene e limpeza. Hoje, são quase 84 mil unidades, que atendem a 83,7% dessas demandas. O único canal possível de abastecimento do lar era a loja física. Usar um aparelho celular para fazer essa tarefa estava fora da realidade. Ou seja, o consumidor multicanal fazia parte do mundo da ficção: uma cena que talvez existisse num futuro distante.

Embora há 25 anos a dinâmica de distribuição fosse menos complexa do que a atual, era igualmente desafiadora. Isso porque não havia uma ferramenta padrão capaz de atender simultaneamente as demandas da indústria e do varejo, facilitando as atividades de transporte e armazenamento de mercadorias.

Foi então que em 1990, graças à visão vanguardista da Abras, surgiu o Palete Padrão Brasileiro (PBR). A criação de uma especificação para o palete – um estrato para transportar mercadorias já em uso no País sob mais de mil modelos diferentes – foi determinante para aprimorar a distribuição no País.

Ao garantir a integração do setor supermercadista e indústria, o palete PBR representou um novo capitulo para a história da logística brasileira, que passou a ser uma atividade estratégica para o varejo diante da necessidade da busca pela profissionalização dos negócios e eficiência operacional.

Além disso, ele inspirou outras padronizações na área de transporte e armazenamento, cujos benefícios podem ser desfrutados num presente no qual as fronteiras entre compras físicas e on-line ficaram no passado e são cruzadas, diariamente por uma legião crescente de consumidores multicanais, o que demanda sistemas cada vez mais integrados dentro da cadeia de suprimentos.

DAS TRINCHEIRAS PARA OS CDs

Embora haja indícios de que o palete tenha surgido antes da Segunda Guerra Mundial, como uma variante do contêiner, foi durante o conflito mundial que o uso da ferramenta se polarizou auxiliando a movimentação das tropas e respectivos arsenais pelos trens da Europa. Sua estrutura permite melhor aproveitamento de espaço, amplia capacidade de estocagem, reduz danos no manuseio de produtos e confere agilidade na carga e descarga de mercadorias. Assim, facilita a distribuição dos produtos e reduz custos homem/hora.

E, a exemplo da logística que também surgiu no meio militar, o palete deixou as trincheiras e passou a ser usado para transportar diversos itens por todos os segmentos da cadeia produtiva e sistemas de distribuição.

De acordo com Vantine, Presidente da Vantine Consulting, Empresa de Consultoria em Logística e Supply Chain Management, que diz: “Antes da Padronização, havia mais de mil modelos de paletes fabricados com madeira nobre e utilizados praticamente só para armazenagem”.

 PROTAGONISMO

No Brasil, o uso de paletes chegou por meio da indústria automobilística nos fins dos anos 1960. No entanto, coube a Abras o protagonismo de fazer do palete um elemento-chave para distribuição no País.

“Tudo começou em 1987,quando prestei consultoria colaborativa para a Abras a convite do então presidente da entidade, José Carlos Paes Mendonça. Ao longo de minha experiência profissional tive oportunidade de acompanhar as tendências na área de logística. A exemplo do que ocorria na Europa e nos Estados Unidos, vislumbrei a oportunidade de criar uma padronização no Brasil que permitisse o intercambio de paletes entre industria e varejo”, relembra Jose Geraldo Vantine, fundador da Vantine Consulting, empresa de Consultoria em Logística & Supply Chain Management.

Inicialmente, as discussões ocorriam no âmbito do Comitê de Logística da Abras. “Na época, havia mais de mil modelos de paletes fabricados com madeira nobre e utilizados praticamente só para armazenagem. O custo do palete era elevado e a eficiência para as atividades de carga e descarga era baixa”, explica Vantine, Presidente da Vantine Consulting, Empresa de Consultoria em Logística e Supply Chain Management. Pouco tempo depois, em abril de 1988, foi criado o Grupo de estudos do Palete de Distribuição (GPD) do qual fizeram parte, inicialmente, fornecedores de alimentos (Abia) e de material de limpeza (Abipia).

“Desenvolvemos 17 projetos e alguns protótipos, que passaram por intensa fase de testes conduzida pelo Instituto de Pesquisa Tecnológicas (IPT), nosso parceiro. E, em 1990, chegamos ao palete padrão brasileiro”, diz Vantine, Presidente da Vantine Consulting, Empresa de Consultoria em Logística e Supply Chain Management.

Fabricado em madeira reflorestada (de preferência pinus ou eucalipto), ele deve ter as respectivas dimensões de largura e comprimento: 1.000 mm x 1.200 mm (PBR I) ou 1.220 mm (PBR II, exclusivo para bebidas).

A padronização foi uma peça-chave para a transferência de mercadorias entre fornecedores e supermercados e para a consolidação do sistema paletizado essencial para o conceito de logística integrada. Entre os benefícios proporcionados pela solução podemos citar: pool nacional de palete (intercambiabilidade); readequação das embalagens (sistemas modulares); padronização das estruturas de estocagem, de arquitetura/construção de depósitos e de carrocerias de caminhão, além de criação do conceito de Unidade de Padrão de Carga (UPC) com exposição direta na loja.

“Fomos visionários: o Paes Mendonça, o Levy Nogueira (que presidiu a entidade na sequência), o Paulo Lima (na época diretor de Armazenamento e Transporte do Pão de Açúcar) e eu. O IPT, a Nestlé, a Bombril, a Unilever e o Grupo Pão de Açúcar também tiveram uma participação ativa na criação do Palete PBR”, destaca Vantine, Presidente da Vantine Consulting, Empresa de Consultoria em Logística e Supply Chain Management.

“Todos aqueles que dependem da logística no País tem de ter uma gratidão muito grande ao Vantine e equipe por essa iniciativa que, em menos de dois anos, estava consolidada a ponto de empresas como Walmart, que já tinha um padrão próprio mundial, terem aceitado e adotado o PBR. O padrão foi ainda fundamental para aprimorar a relação entre varejo e indústria”, afirma Levy Nogueiraa.

Paulo Lima, que atualmente atua como consultor na área de varejo, destaca a importância do projeto para a adoção do sistema de paletização pelo segmento de distribuição. “O palete PBR trouxe mudanças importantíssimas para a indústria e o varejo. E uma racionalização muito grande no processo de carga e descarga nos centros de distribuição (CDs).”

A seguir, as marcações. O desenho detalhado esta no Portal da Abras, no Link: HTTP://www.abrasnet.com.br/palete-pbr/desenho-pbr-i/ .

 COMITÊ

A fim de garantir a implementação do palete PBR criou-se em 1990 o Comitê Permanente de Paletização (CPP). Cabe também ao comitê credenciar os fabricantes autorizados a utilizar a marca PBR. Isso é feito por meio de contrato de cessão de uso de marca autorizado pela Abras, que detém essa patente.

Esse processo de credenciamento permanece praticamente igual desde os anos 90. Primeiro é feito um exame dos documentos fiscais da empresa pelo CPP e pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Palete PBR (Abrapal). Na sequência, é realizada uma avaliação do processo produtivo da empresa e da qualidade dos itens para verificar o potencial e a adequação as exigências das especificações.

Revista Super Hiper – Ano 41 – n°473 – Novembro 2015