AFINAL, O QUE É PRODUTIVIDADE?
Como outros modismos, fala-se tanto hoje em produtividade que não será nada estranho se a palavra virar samba-enredo no próximo Carnaval. Como num passe de mágica, o governo impõe ao País um plano de produtividade. A partir de agora, a ordem é a produtividade.
Não que o assunto seja banal. Ao contrario, é importantíssimo. Ocorre, no entanto, que o Brasil de hoje, delineado pelo desequilíbrio de suas mais importantes forças (governo, empresas e empregados), não sabe, efetivamente, o que é produtividade.
Se o governo, que é a primeira força soubesse a Petrobrás não teria pura e simplesmente repassado para os combustíveis a alta do petróleo provocada pelo conflito do Golfo Pérsico. Bastaria que ela assimilasse o aumento – ou parte expressiva dele – por ganhos de produtividade em sua estrutura.
Ou seja, tornaria mais eficiente seus sistemas de craqueamento, refino, armazenagem e distribuição. Economizaria nessa ponta e suportaria os gastos adicionais com a compra do óleo.
A segunda força – os empregados e seus sindicatos – também nem desconfia do que se trata. Finalmente, entre os empresários, salvo raríssimas exceções, produtividade não é o que eles imaginam ser.
Durante 50 anos, o Brasil seguiu sempre o exemplo dos EUA. Nos últimos dez, descobriu o Japão e dessa viagem importou o termo produtividade. Só que os viajantes copiam só metade da receita do bolo e nesta década de 90, que todos sabem será a da eficiência e da produtividade, cometem os mesmos erros dos anos 80, quando o Brasil aterrisou no Japão.
O Japão, na verdade, revolucionou o mundo ao adotar, na década passada, técnicas de administração e gerenciamento excepcionais. O Just In Time, Kan Ban, Célula de Manufatura, Manutenção Produtiva Total, Controle de Qualidade Total e Troca Rápida de Ferramentas provavelmente tenham sido uma Segunda Revolução Industrial.
O problema é que, ao copiar a receita pela metade, os brasileiros dessa viagem ficaram confinados às quatros paredes de uma fabrica, deixando de lado duas pontas importantíssimas do processo, que são o Suprimento e a Distribuição.
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Matéria O ESTADO DE SÃO PAULO – 15/01/1991